A Notável Interação Homem-Máquina
Dr. Silvia Helena
Cardoso

Desdes os tempos de Aristóteles o homem tem notado com admiração os diversos paralelos existentes entre a organização dos sistemas biológicos e a das máquinas. Na verdade, há séculos damos às nossas criações muitas das habilidades e funções dos seres humanos. Pás são extensões dos nossos braços, guindastes são dedos que servem para pegar objetos grandes, canos de água são similares ao nosso sistema de veias e artérias, telescópios aumentam o nosso poder de visão; e, nos dias de hoje, a fiação interna dos computadores é quase tão complexa quanto o nosso sistema nervoso.

A integração entre o homem e a máquina está ficando comum, particularmente no campo da medicina. Observe, por exemplo, os implantes artificiais. Por muitos anos o homem tem usado próteses com juntas que imitam a função de nossas articulações, como os joelhos artificiais, por exemplo. As válvulas artificiais do coração são também dispositivos comumente implantados através de cirurgia salvando por meio disto, centenas de milhares de vidas. Utilizamos aparelhos dentro de nossos próprios corpos, e a distinção entre o que é natural e o que é artificial está se tornando cada vez maior.

Nos últimos anos, a fronteira tecnológica para a integração homem-máquina tem sido o sistema nervoso. Uma grande proporção do progresso que tem ocorrido no campo da biomecânica, robótica e neuroprótese é o resultado de planejamento intencional: um campo que está se desabrochando é a biônica, ou seja, a engenharia de mecanismos que imitam a função biológica. Da mesma maneira que um computador envia ordens através de seus fios e conexões, impulsos eletromecânicos viajam pelas fibras nervosas até alcançarem o orgão do corpo. Imitando este sistema de transmissão natural, os cientistas são capazes de corrigir processos sensoriais e motores, como a surdez, a cegueira e a paralisia, através de microchips eletrônicos que podem ser usados para estimular células ou para controlar próteses biomecânicas. Dessa forma, microchips complexos implantados no corpo ou no cérebro estão substituindo células que não funcionam bem ou que estão lesionadas, bem como substituindo músculos ou nervos.

Com a cóclea artificial, por exemplo, as pessoas surdas dizem que elas podem ouvir perfeitamente bem. No entanto o Dr. Merzenich, um neurofisiologista da Universidade da Califórnia em São Francisco, diz que "na verdade, esses impulsos enviados ao cerebro são distorcidos. O que parece acontecer é que o cérebro de alguma maneira ajusta as suas conecções de forma a compreender os impulsos que ele recebe" . Essa clara demonstração da plasticidade no cérebro humano gera a esperança de que os cientistas serão capazes de desenvolver outras proezas similares no futuro. Uma dessas proezas poderia ser membros artificiais produzidos com "neurônios artificiais" capazes de responder aos sinais enviados diretamente ao cerebro.

Por conferir inteligência às máquinas, o homem será eventualmente capaz de obter muitos benefícios para a sua saúde, bem como extender às suas próprias habilidades intelectuais, como a memória. Não é possível prever o limite para esses processos simbióticos. Hoje a neurotecnologia é capaz de substituir e de controlar funções sensoriais e motores mais simples. A questão é: será que ela progredirá ao ponto em que os processos cognitivos tambem serão substituídos?

Silvia Helena Cardoso
Editora-chefe e Fundadora
correspondência