Mente e Matéria

Por Luís Augusto Angelotti Meira

Gostaria primeiro de colocar a questão da mente em termos físicos, materiais. A pergunta inicial é: o que é a matéria? Podemos definir matéria, em termos macroscópicos, como tudo aquilo que tem massa e ocupa lugar no espaço. Microscopicamente, matéria deixa de ocupar um lugar no espaço e passa a ser estudada como uma forma de energia. Existe um interessante experimento em que atira-se um elétron em uma parede com dois furos. O elétron passa pelos dois furos ao mesmo tempo e volta a se reunir do outro lado. Para este experimento, o elétron é modelado como uma onda. Pois bem, eis o homem, um monte de energia confinada a certos vales no espaço. Onde está a mente, onde ela fica?

 Primeiro: o que se conhece sobre a matéria? Muita coisa. Sabe-se que o movimento da matéria é regido por três forças. Forças elétricas, gravitacionais e de coesão do núcleo. A força de coesão do núcleo é uma força que faz com que os prótons, de cargas positivas, não se afastem no núcleo de um átomo. A força gravitacional é bem conhecida de todos e as forças elétricas são as que geram maior número de fenômenos físicos. Quando chuta-se uma bola, é a força de repulsão elétrica entre o pé e a bola que não deixa que o pé entre na bola, impelindo esta para frente.

 É bem sabido que todo ser humano é composto de átomos, de matéria. Se olharmos para cada pedacinho de nós, somos estes fragmentos de energias preso em vales que vão de um lado para outro num movimento que depende das três forças acima citadas. Analisando nosso corpo microscópicamente, todos os movimentos são determinísticos, e os grandes movimentos e ações nada mais são que a soma destes pequenos movimentos determinísticos.

Teoricamente é possível saber o resultado de uma partida de futebol com antecedência. Bastaria saber a posição de todos os átomos dos jogadores, do campo e de tudo o mais que possa causar interferência e analisar matematicamente qual o movimento que estes átomos tomarão durante a partida de futebol. Todas as decisões que tomamos durante nossa vida, por mais que hesitemos em toma-las, já estão todas escritas nisto que podemos chamar de grande livro de bolinhas pulando de um lado para outro.

 Infelizmente este determinísmo mecânico teórico, que ainda esbarra na teoria do caos e no princípio da incerteza da matéria, apesar de seu valor filosófico, não valor prático nenhum. Modelar dois elétrons em torno do núcleo já da bastante trabalho, lembre que os dois elétrons são atraídos pelo núcleo e se repelem entre si. O que dizer de modelar uma quantidade impensavelmente grande de átomos e moléculas, um a um? Somos uma máquina meramente mecânica, sim, mas tão complicada que não pode ser vista como tal. Todos nós temos uma mente, este algo que cheira, vê, sente, pensa, ama, tem medo e vive. Mesmo que ela não exista de fato, no mundo físico, temos experimentado diariamente esta impressão de estar vivos e conscientes.

 A vida surgiu, e por conseguinte os seres conscientes, surgiram na terra impulsionados por uma pequena força que vinha lá do sol, que, enquanto se desorganizava, alguma matéria aqui na terra foi, caprichosamente, se organizando. Para muitos parece paradoxal, contraria a segunda lei da termodinâmica que fala em constante desorganização da matéria. Paradoxal que, com o passar do tempo, a vida tenha começado a existir. Muitos falam que a existência do homem e dos demais seres vivos seja um milagre. Milagre ou não vemos que a vida foi se organizando de forma continua pelos milhões de anos e foram surgindo concentrações nervosas que culminaram com o aparecimento da consciência.

 Podemos dizer que a mente é uma ilusão e que, de fato, no mundo físico, não existe. Sim, isto que chamamos de mente, consciência, sub-conciência e inconciência, seria apenas uma ilusão adaptativa fruto de uma evolução biologica que tem por fim perpetuar as espécies.
 A mente é uma ilusão... E agora? O que é esta ilusão?

 Queria citar agora o pouco que compreendo sobre uma análise dicotômica do Universo. Primeiramente temos o universo físico onde existe banana, vaca e demais coisas físicas. Podemos dizer que "a banana e'". Fora este universo, existe um outro tipo de universo, onde as coisas nao são, mas sim, significam. Uma pedra deixa de ser uma pedra e passa a ser um significado dentro de um dado universo que existe, por exemplo, dentro de uma pessoa. A pedra "não é", a pedra "existe". Há uma idéia panteísta de Deus que é o ser que sustenta a união de todos os universos de significado através de um único universo de existência.
 A mente não existe, ou não está, dentro do universo físico mas ela existe sendo um universo de significado, um universo metafísico, o universo de cada pessoa.

 Podemos chamar mente de universo, universo simbólico de cada ser humando. Algumas belas obras com cunho filosófico ou religioso tentam alertar que o mundo físico nao é o mais importante. Que existe um Deus, que existe um céu, que existe o bem, o mal, ou que, pelo contrário, não existe evidência de Deus, que o bem e o mal são coisas relativas, que o ser humano vive dentro de um universo incompreensível e sem ter certezas de quase nada. Estas duas formas de se pensar, filosófica e religiosa, diametralmente antagônicas, mas profundamente próximas, levam o ser humano a refletir sobre questões metafísicas. Seja a mente humana dotada de uma alma imortal que, ao final da jornada aqui na Terra vai se unir com uma alma de um ser superior, ou seja a mente finita no tempo e dependente biológicamente do corpo, questões estas que cada um de nós  tem a liberdade de optar, ou, até mesmo de viver sem fazer uma opção entre elas, temos que assumir que há um nível mais abstrato de existência onde o ser humano existe em sua essência e é neste outro universo mais abstrato que podemos experimentar a existencia da mente através de nossa própria existência.
 


Luís Augusto Angelotti Meira
Engenharia da computação - Unicamp
[971107@ic.unicamp.br]