A Evolução da Inteligência

Parte 8: Conclusões

Renato M.E. Sabbatini, PhD
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O aparecimento da inteligência na Terra implica um paradoxo: só conseguimos reconhecer e avaliar diretamente sua existência apenas porque somos inteligentes! Outras formas de vida, o meio ambiente, e agora, até mesmo o espaço sideral, são o objeto de estudo da nossa inteligência e dos nossos atos sobre ele, mas eles são incapazes de entender essa inteligência. 

Assim que os seres humanos adquiriram inteligência capaz de entender e raciocinar sobre o universo e tudo o que há nele, a  tentativa de compreendermos a nós mesmos tornou-se uma obsessão. Há muitos ramos da filosofia e das ciências dedicado exclusivamente a isso, e este artigo da Revista Cérebro & Mente tem precisamente este objetivo. Acima de tudo, queremos, como espécie, descrever e compreender até o derradeiro detalhe como o cérebro foi construído e aperfeiçoado pela natureza, como a mente apareceu e como a inteligência e  a consciência surgiram a partir da matéria, e isso certamente figura entre os mais fascinantes, os mais duradouros, os mais difíceis, e, provavelmente, os mais gratificantes de todos os esforços científicos do homem. 

Tornou-se claro para os cientistas que a inteligência não é única para os seres humanos: muitos animais têm vários tipos de "inteligências", muitos deles superiores aos do homem (por exemplo, foi demonstrado experimentalmente que a memória de curto prazo de jovens chimpanzés é bem melhor do que a nossa). No entanto, é somente o Homo sapiens sapiens, desde sua aurora como uma nova espécie, que tem desenvolvido e apresentado uma combinação única de funções neurais que podemos legitimamente chamar de inteligência (provavelmente com um "I" maiúsculo). Esta certeza fez do homem um animal que se auto-atribuiu o título de "rei da criação". Todas as religiões tentam nos colocar nesta posição superior e única na Natureza, desde as sofisticadas mitologias cosmogônicas dos índios brasileiros até a Bíblia e o Alcorão. Talvez não seja justificável, mas sabemos com certeza que algo estranho aconteceu cerca de 100.000 anos atrás, quando um pequeno grupo de primitivos e peludos descendentes de homens-macaco na África tenham se ransfigurado, através da evolução natural, em um ser fisicamente frágil, mas com uma mente ultra-poderosa. 

O resto é história.

O Futuro da Inteligência Humana

Como será a evolução do cérebro e da inteligência humana no futuro? Bem, em primeiro lugar, evolução biológica é um fenômeno extremamente lento, na melhor das hipóteses só pode ser notado ao longo de dezenas de milhares de anos, abrangendo de 2 a 5.000 gerações humanas. Evolução sempre ocorre, como mostram vários estudos da frequência e das mutações dos genes relacionados aos cérebros, que são a maioria dos 25.000 genes do genoma codificado do homem.  O que não sabemos é em qual direção nos levará essa evolução. Teremos cérebros enormes, como nos querem sugerir os adeptos dos ETs e da ficção científica? Seremos, em virtude disso, bem mais inteligentes do que hoje?

Do ponto de vista biológico, várias evidências indicam que não!
Argumenta-se que o volume cerebral total dos bebês tem aumentado progressivamente nas últimas décadas. É verdade, mas isso parece ser mais o resultado de mães hiper-alimentadas na gestação e fatores nutricionais durante o desenvolvimento infantil, que têm levado a uma maoior massa corporal ao longo das gerações, do que um aumento de inteligência. Infelizmente.

O que parece ser verdade, é que nossa inteligência continuará a aumentar, mas através de três mecanismos epigenéticos e artificiais:

Tudo isso é especulação, é claro. Mas bem longe de ser ficção científica, está no domínio das possibilidades, e já estamos rumando a esse ponto ômega.


"A Evolução da Inteligência"
Renato M.E. Sabbatini, PhD
Revista Cérebro & Mente, Fev/Abr 2001

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Copyright (c) 2001 Renato M.E. Sabbatini
Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Piblicado inicialmente em 15 de fevereiro de 2001.
Atualizado em 18 de setembro de 2011

URL desta página: http://www.cerebromente.org.br/n12/mente/evolution08_p.html